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1905: lembranças do "ensaio geral"

Este ano, completa-se cem anos da revolta de 1905 na Rússia. O que nos faz rememorar um momento marcante na história, que ficou conhecido como o "ensaio geral" para a vitoriosa revolução de 1917, que instaurou o regime soviético.

A Rússia naquele período tinha um sistema político absolutista, comandado pelo Czar Nicolau II, que enfrentava um grande desgaste político devido a Guerra Russo-Japonesa, iniciada em 1904 e que tinha um caráter imperialista: a disputa do domínio da Coréia e da Manchuria. Esta guerra ampliou as contradições do sistema, extremamente hierarquizado, onde o desenvolvimento capitalista não tinha atingido de forma plena o país, as desigualdades sociais eram gritantes e a mobilidade social quase nula.

A derrota do Czar na guerra com o Japão gerou um fortalecimento do movimento de oposição. Movimento que teve sua primeira manifestação forte em janeiro de 1905, quando uma manifestação popular pacífica em frente ao Palácio de Inverno de Nicolau II, em São Petersburgo, foi reprimida violentamente, dizimando centenas. O episódio ficou conhecido como o Domingo Sangrento. A onda de protesto, a partir daí, espalhou-se por todo o país, resultando em greve geral e levantes militares, como o do famoso Encouraçado Potemkin.

Este movimento forçou um processo de democratização do regime, convertendo-se uma monarquia absolutista em uma monarquia constitucional e parlamentar. Esta "abertura" durou pouco, em 1906 o Czar já havia reduzido os poderes do parlamento e adotado sucessivas medidas que lhe restituíram os seus antigos poderes. O que lhe causou um longo e ainda maior desgaste político.

No entanto, o mais importante deste episódio é seu caráter embrionário de um movimento muito maior, que doze anos depois transformaria a Rússia na primeira experiência de um país regido por uma orientação socialista. Cabe recolhermos as lições deste passagem histórica que possibilitou a "virada" nos rumos daquela sociedade. O mundo em 2005 não é o mesmo, nem a classe operária nos países industrializados permite paralelos com o proletariado russo da época.

No entanto, talvez uma das principais lições que se mantêm extremamente atual, é a não linearidade pré-definida dos acontecimentos. Não há uma "rota" pré-determinada que não possa ter o seu percurso alterado. Esta é uma das mais valiosas lições de 1905. Pois em 1906 ou 1907, as vozes de que as massas populares tinham sido derrotadas, de que avanços reais seriam impossíveis eram muitas. A maioria não poderia imaginar que uma década depois o Tzarismo cairia e os trabalhadores assumiriam o poder.

É esta imprevisibilidade, no sentido de demonstrar que não existe "jogo já jogado" antes mesmo de iniciado, que abrem as possibilidades para novas experiências que venham a colaborar com a emancipação humana neste século XXI.

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